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Interioridade e Exterioridade

por Moysés Pinto Neto

O principal dos equívocos conceituais que alimentam a ideologia do crescimento econômico, sustentada tanto pela direita quanto a esquerda, é separação entre interioridade e exterioridade, colocando a cultura do lado interior — do qual a economia faz parte –, e a natureza do lado exterior, sendo portanto reduzida tecnicamente a uma “externalidade” do sistema. Essa configuração absurda do espaço dentro/fora faz com que o meio político — incluídos quase todos os seus satélites, como mídia, economistas e boa parte da militância — continue alimentando a ilusão de que, se tudo estiver bem “aqui dentro” (a economia, os números etc.) estamos “protegidos” contra os perigos que estão “lá fora” (na natureza, na floresta, no oceano etc.). No ponto mais doentio, essa cosmovisão sustenta a dominação total do ecossistema, adaptando-o às finalidades “humanas” (na verdade, a compulsão doentia por crescimento reificada que caracteriza o projeto Ocidental); no ponto mais moderado, negocia como se a natureza fosse uma moeda a ser trocada e quantificada — tudo em nome do “progresso”.

Não adianta mostrar que não só somos penetrados por “dentro” quando respiramos ar, nos hidratamos com água ou quando ingerimos alimentos ou tudo que nos mantêm vivos, e nem que nosso pensamento (esse suposto “interior”) é, desde sempre, dependente de um corpo que, por si só, é natureza em pulsação, a começar pelo próprio cérebro. Não adianta nem mesmo mostrar como uma catástrofe tal como a ocorrida em MG desestabiliza toda noção de “cultura”, tudo que porventura possa ter passado a significar “obra humana” nos lugares que agora vivem efeitos de forças que ultrapassam qualquer tentativa de controle. O imaginário do crescimento é uma intoxicação, uma compulsão de uma sociedade viciada. Por isso mesmo, acho que essa divisão entre direita e esquerda, apesar dos pesares, não será a mais relevante para os próximos tempos. A batalha não está mais no campo antitético entre Estado e Mercado, mas entre o crescimento e seus inimigos — os rexistentes ou, usando o termo de Latour, os terranos.