Arquivo | janeiro 2017

Par Enantiodronômico

par-enantiodronomico

por Augusto de Franco

Alessandro Gagnor Galvão compartilhou a seguinte publicação de Eduardo Carreira no grupo Dagobah:

Eduardo Carreira:

“David Horowitz (o grande branco ex-pantera negra) está certíssimo: 1) a esquerda revolucionária é basicamente rousseauniana e infantil quando acredita piamente naqueles mitos simplórios do século XVIII sobre a bondade inata dos humanos; 2) a esquerda revolucionária tem obsessão com o futuro, que é fundamentalmente um campo imaginário (ao contrário do passado que pode ser de algum modo aferido); 3) a esquerda revolucionária se considera um exército bem intencionado de salvadores da humanidade, cujo projeto só é questionado por pessoas escrotas que devem ser eliminadas; 4) a esquerda revolucionária vive de mentiras. E não só aquelas relativamente típicas e abstratas da realpolitik. Como sabem meus amigos que continuam lá, nunca se pode ser um esquerdista/revolucionário consciente sem mentir sobre quem é você”.

Segue abaixo a minha resposta.

Augusto de Franco:

“Sim, parece correto, mas há problemas nessa formulação. Apenas para explicitá-los vou fazer uma paródia.

1) a direita conservadora é basicamente hobbesiana e infantil quando acredita piamente naquela hipótese, sem comprovação científica, de que os seres humanos têm uma natureza competitiva e, se abandonados à sua própria sorte, se engalfinhariam numa guerra de todos contra todos; 2) a direita conservadora tem obsessão pelo passado, que é um campo tão imaginário quanto o futuro, na medida em que seus historiadores constroem a história da frente para trás, projetando sobre o passado (que não existe mais, porquanto já passou), sem transposições hermenêuticas válidas, as visões geradas pelas condições presentes (e fazem isso não para conhecer o passado e sim para sulcar um caminho para o futuro condicionado pela repetição de passado); 3) a direita conservadora se considera um exército de pessoas que devem combater a esquerda para manter os valores da civilização, em geral ocidental, mas nem sempre (e em muitos casos cristã ou religiosa: afinal, se deus não existe, tudo seria possível) – como a família, a tradição, a propriedade, a ordem e a hierarquia (quando não a disciplina, a obediência, o comando-e-controle e a fidelidade imposta top down) – e julga, sem qualquer base racional, que existe uma besta-fera humana, um homo hostilis primordial em cada um de nós, que deve ser domado pela civilização; 4) a direita conservadora vive de mentiras (tal como a esquerda). E, na prática (tal como a esquerda) adota sempre – ao fim e ao cabo – a realpolitik, que é autocrática (não-democrática).

Enfim, a esquerda revolucionária e a direita conservadora compõem um par enantiodronômico.